Agora com três medalhas olímpicas, Jared Tallent venceu os 20 km masc.em Nova Deli-2010. Foto: AP |
À semelhança do que
aconteceu na fase preparatória da última edição dos Jogos da Comunidade
Britânica, realizados em Outubro de 2010 em Nova Deli (Índia), a próxima edição
do certame, marcada para Glasgow (Escócia) de 23 de Julho a 3 de Agosto de
2014, tem a disciplina da marcha excluída do programa. Competição
multidesportiva que junta no mesmo programa 17 modalidades, os Jogos de 2014
terão, assim, o atletismo amputado de uma das disciplinas que mais expressão
ganharam a nível mundial nos últimos anos.
A edição de Glasgow
destes Jogos sucede à de Nova Deli-2010, a qual três anos antes de ter lugar
também tinha a marcha fora do programa. À época, a organização justificou a
decisão com o facto de haver na cidade problemas de tráfego urbano que
dificultavam a escolha de um circuito para as provas da disciplina. No entanto,
o Comité Olímpico Internacional (sob cuja égide estes Jogos são organizados) e
a Associação Internacional de Federações de Atletismo conseguiram que o comité
organizador do evento reconsiderasse e voltasse a integrar a marcha atlética no
programa desportivo, apesar de apenas com as provas de 20 km masculinos e
femininos.
Ainda que muitos dos
países participantes nos Jogos da Comunidade Britânica, incluindo os que se
inscrevem no atletismo (quase todos), não participem nas provas de marcha, a
verdade é que a comunidade inclui alguns dos países com maior expressão mundial
na disciplina, caso sobretudo da Austrália, uma das potências mundiais da
marcha. Mas, além desta, também o Canadá, a Grã-Bretanha e a Nova Zelândia têm
tradições na especialidade, sendo pátria de atletas responsáveis pela obtenção
de dezenas de medalhas nas mais importantes competições à escala planetária: os
Jogos Olímpicos, os campeonatos do mundo e as taças do mundo.
Nos anos mais
recentes, digamos desde 2010, também a Índia, outro membro da comunidade, se
tem afirmado a nível internacional na marcha atlética, com atletas seus a
ocuparem lugares cada vez mais interessantes em competições como os recentes
Jogos Olímpicos de Londres.
Por tudo isto, parece
que a decisão de excluir a marcha dos Jogos da Commonwealth não é uma
desconsideração em abstracto, mas uma falta de consideração para muita gente em
concreto, desde os mais afamados campeões a nível mundial até aos atletas que
ainda não atingiram os níveis mais altos de desenvolvimento competitivo. E
também para todos os que, sendo treinadores, juízes, dirigentes ou simples
adeptos ligados à marcha atlética, têm contribuído de alguma forma para a
valorização dessa disciplina olímpica do atletismo nos países da Comunidade
Britânica.
Além do mais, a
discriminação da marcha é em si uma atitude não consentânea com os valores
solidários do Olimpismo, que devem nortear o desporto de maneira geral e, de
forma particular, os eventos organizados na esfera do Movimento Olímpico, como
é o caso.
Figura destacada da
marcha na Grã-Bretanha e muito respeita no atletismo mundial, Peter Marlow
tem-se empenhado na luta pela integração da marcha no programa de Glasgow-2014.
Portugal não faz parte da comunidade envolvida nestes Jogos, mas nem isso
arrefece a estima que os marchadores portugueses têm pelo reconhecimento da sua
disciplina seja onde for. O blogue «O Marchador» exprime a sua solidariedade a
Peter Marlow e, por seu intermédio, a todos os marchadores da Comunidade
Britânica, na esperança de que não vá por diante esta tentativa de menosprezar
uma disciplina de corpo inteiro do atletismo.