Montagem: O Marchador |
Aproximadamente meio milhar de
jovens atletas alinham este fim-de-semana na 37.ª edição do Torneio Olímpico
Jovem, que tem lugar em Lagoa. Como sempre, o torneio pretende reunir atletas
masculinos e femininos dos escalões de iniciados e juvenis de todas as
disciplinas do atletismo, organizados em seleções distritais ou de regiões
autónomas ou ainda de entidades ou regiões convidadas (Desporto Escolar e
Macau).
Lamentavelmente, o torneio mantém em
2019 o defeito que vem sendo denunciado desde 2004, ano em que o programa
começou a discriminar os atletas da marcha, impedindo os de um escalão de ter
provas neste programa. Alternadamente, num ano são os iniciados que não têm
provas de marcha, noutro ano são os juvenis que ficam impedidos de competir na
sua disciplina.
São já 15 anos passados sobre esta
arrevesada decisão da Federação Portuguesa de Atletismo de preterir os
marchadores de um escalão, sem que nada tivesse sido feito para pôr termo a tal
injustiça, que limita a capacidade de mobilização de jovens para a prática
desta disciplina olímpica do atletismo, tão válida, meritória e respeitável
como qualquer outra, ainda que para os dirigentes da FPA assim pareça não ser.
Trata-se de um mau serviço prestado
pela federação ao atletismo e ao desporto na sua globalidade. E é, desde logo,
um mau exemplo no plano ético, dado representar uma atitude que se deseja
arredada do sistema desportivo, pela negação que impõe ao direito à
concretização da prática do desporto e pela violação evidente do princípio
básico de garantia de condições de igualdade no acesso ao desporto.
Mas a decisão de manter a injusta
discriminação dos jovens marchadores tem ainda outra consequência, mais do
plano concreto. É que, retirando provas de marcha do programa deste importante
torneio, a FPA elimina um factor de atracção de jovens à prática da marcha
atlética, criando, pelo contrário, um factor de desmotivação para atletas que
possam interessar-se pela prática da marcha.
E não se pense que esta é uma
análise apenas retórica e que o assunto não tem relevância para além da
vertente teórica, sem consequências práticas. Na realidade, foi por necessidade
de algumas associações distritais (ou, noutras situações, por interesse de
alguns clubes) que surgiram em Portugal (e surgiram de facto!) alguns expoentes
nacionais e internacionais da disciplina. Fosse no Olímpico Jovem, nos torneios
interassociações ou em campeonatos nacionais de clubes, não foram poucos os
casos de atletas que enveredaram pela prática da marcha atlética por
necessidade de associações ou de clubes de terem marchadores para essas
competições e que depois vieram a tornar-se grandes campeões (nalguns casos à
escala internacional).
Envolvendo tudo isto, existe uma
questão ética fundamental: é da mais elementar justiça erradicar a
discriminação da marcha de qualquer prova organizada pela Federação Portuguesa
de Atletismo onde faça sentido ela estar integrada. E o Torneio Olímpico Jovem
é claramente uma delas.
Dito isto, poderia ter-se em conta o procedimento adotado na vizinha Espanha no domínio da marcha atlética das camadas jovens. Não há campeonato autonómico, campeonato nacional individual ou colectivo que não tenha a marcha incluída no programa. Existe inclusivamente uma competição dentro desses campeonatos com o formato de triatlo que engloba a marcha, junto de duas outras disciplinas.
Dito isto, poderia ter-se em conta o procedimento adotado na vizinha Espanha no domínio da marcha atlética das camadas jovens. Não há campeonato autonómico, campeonato nacional individual ou colectivo que não tenha a marcha incluída no programa. Existe inclusivamente uma competição dentro desses campeonatos com o formato de triatlo que engloba a marcha, junto de duas outras disciplinas.
Sem pretender estabelecer aqui qualquer relação causa-efeito, a verdade é que Espanha dá esta atenção à marcha jovem e, ao mesmo tempo, tornou-se uma potência mundial da especialidade. Se uma coisa resulta da outra, talvez esteja por determinar, mas a coincidência é evidente e não deve ser menosprezada. Em Portugal, nem se valoriza a marcha jovem nem se desenvolve qualquer plano visando manter a expressão internacional que a nossa marcha atingiu há anos e que começa a ser apenas memória registada de um tempo que começa a poder dizer-se que «já lá vai». E se o topo falha, é porque alguma coisa está mal na base.
Fica uma sugestão: porque não recuperar o procedimento de ter as quatro provas de marcha no Olímpico Jovem (iniciados e juvenis, masculinos e femininos) mesmo que para isso seja necessário fazer partidas simultâneas? Seria um mal muito menor e não teria consequências na duração do programa, dado que obrigaria às mesmas duas partidas que já estão previstas. A diferença menor seria a de haver duas provas a começar com cada tiro; a diferença maior seria a de, assim, todos poderem participar - iniciados e juvenis.
Em 2019, o programa inclui marcha apenas para iniciados. As duas provas do escalão realizam-se na jornada da manhã de domingo, dia 9. Às 9h30 são os 4000 m masculinos; às 9h55 começam os 4000 m femininos. Oxalá seja a última vez que é preciso chamar a atenção para este problema!