sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Valentin Maslakov demarca-se de Chyogin

Valentin Maslakov: «Houve completo desrespeito pelas regras»
Foto: eurosport.ru
Algumas semanas passadas sobre a demissão de Valentin Maslakov, o antigo membro da equipa técnica da Federação Russa de Atletismo ao serviço das selecções nacionais deu uma entrevista ao jornal «Trud» (aqui), demarcando-se dos controversos processos seguidos pela equipa dirigida por Viktor Chyogin.

Na entrevista, publicada a 30 de Janeiro, Maslakov garante que Chyogin era omnipotente no trabalho desenvolvido com os marchadores. «Durante o período em que trabalhei com a equipa nacional, Viktor Chyogin era uma pessoa completamente independente e eu não tinha qualquer possibilidade de influenciá-lo ou de controlá-lo. Na 'cozinha' de Chyogin, eu pura e simplesmente não era admitido», garante.

Sobre a participação de atletas suspensos em competições oficiais, nomeadamente nos Campeonatos de Marcha Atlética da República da Mordóvia em pista coberta, em 30 de Dezembro, Valentin Maslakov tem uma opinião clara: «Não há excepções à regra: os atletas suspensos não podem tomar parte em qualquer competição. Ponto final! Não consigo perceber se se tratou de descuido ou de má intenção. Mas houve completo desrespeito pelas regras e daí resultaram problemas graves para o atletismo russo.»

No entanto, no caso dos campeonatos da Mordóvia de Dezembro passado, nenhuma justificação terá sido dada pelos juízes da competição e a situação não poderia ser explicada por ninguém a não ser pelo próprio Viktor Chyogin: «A autoridade de Chyogin na Mordóvia é de tal ordem que quando faz alguma coisa ninguém questiona a legitimidade das suas acções», afirma Maslakov, que se manifesta contrário a alguns processos de desclassificação de atletas e reclama equidade de tratamento para todos.

«As amostras dos atletas desclassificados mais recentemente foram colhidas em 2009. Muitos testes feitos a atletas dão resultados no limite entre o 'pode' e o 'não pode'. Alguns valores, como os da hemoglobina, podem atingir picos sem intervenção de factores externos. Um pico de duração breve pode ser detectado ao fim de oito anos e dar lugar a uma desclassificação. Não concordo com a regra actual que permite declarar faltoso um atleta ao fim de sete anos e desclassificá-lo. Pode acontecer aos melhores e mais honestos. Todas as estrelas ficam permanentemente sob a espada de Dâmocles. Mas a realidade é essa. Para se ser justo, não se pode actuar assim apenas com os campeões russos, mas também com os da Jamaica, da China, de França e de outros países.»

Questionado sobre se se trata de reflexos da conjuntura política, Valentin Maslakov considera que existe um preconceito em relação aos bons resultados obtidos pelos atletas russos: «Nos últimos anos, os aletas da Rússia dispuseram das melhores condições de treino que existem na Europa. É uma excelente condição de base. Em muitas disciplinas temos os melhores especialistas do mundo. E aí surge o estereótipo: se há bons resultados, então não foi sem estimulantes.»

Entretanto, citado esta terça-feira pelo diário em linha «Pro Gorod Saransk», o ministro russo do Desporto, Vitaliy Mutko, defendeu que o homólogo da Mordóvia, Vladimir Kireev, deve assumir todas as responsabilidades pelo escândalo da dopagem que envolve o Centro de Preparação Olímpica de marcha atlética. «O ministro do Desporto da Mordóvia deve claramente ser responsabilizado pelo que aconteceu. Subsistem dúvidas que não foram esclarecidas. Pelo menos, esses campeonatos foram realizados sob os seus auspícios e nele participaram atletas que estavam na lista de suspensos. Ainda não sei se vai continuar no lugar ou não. Mas levaremos o caso até às últimas consequências», garantiu Mutko.

Em todo o escândalo de dopagem envolvendo o Centro de Preparação Olímpica de Saransk, o ministro Vladimir Kireev tem sido uma figura sombria, não se lhe conhecendo qualquer declaração pública sobre o assunto. De resto, os órgãos de imprensa russos continuam a tentar sem sucesso obter do governante mordóvio alguma opinião a respeito do caso.

Por sua vez, já esta sexta-feira ao final da manhã, apesar de recusar fazer declarações sobre  escândalo de dopagem por estar a decorrer uma investigação, o presidente da Federação Russa de Atletismo (FRA), Valentin Balakhnichyov, afirmou que a demissão de Viktor Chyogin não estava ao seu alcance, por se tratar de técnico ao serviço de outra entidade. «De acordo com a lei, essas decisões são da competência da entidade empregadora. Se o treinador não trabalha para a federação, o máximo que podemos fazer é não o incluir na delegação nacional para as grandes competições», esclareceu Balakhnichyov, que, no entanto, não explicou por que razão Chyogin se apresentou com o uniforme oficial da selecção russa nos europeus de Zurique, mesmo não tendo sido integrado na delegação oficial.

O líder federativo russo adiantou ainda que, quando surgiram as primeiras informações de suspensão de marchadores russos, tratou imediatamente de procurar com a Associação Internacional de Federações de Atletismo (AIFA) uma solução que defendesse os interesses da FRA e dos atletas.

Sobre a participação de atletas suspensos nos campeonatos de marcha da Mordóvia em pista coberta, Valentin Balakhnichyov foi claro sobre quem considera responsável pelo sucedido: «O incidente pesa por inteiro na consciência dos organizadores dos campeonatos. Foram eles que criaram as condições que impedem Elena Lashmanova de participar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.» E acrescentou que essa competição nem constava do calendário.