João Marques e Carlos Albano, os dinamizadores. Foto: Carlos Gomes. |
A
competição, além de ter sido pioneira enquanto certame exclusivo de marcha
atlética, foi um estímulo para o aparecimento de organizações semelhantes em
diferentes regiões de Portugal.
Naqueles
tempos, e principalmente nas primeiras edições da prova, era em clima de
autêntica romaria e festa que se rumava para aquelas bandas. Um autocarro, por
vezes dois, punha-se à estrada, invariavelmente a um sábado, com partidas de
Lisboa, transportando atletas, na sua maioria do Centro de Cultura e Desporto
de Olivais Sul e da Associação Desportiva de Oeiras, assim como do Benfica, do
Santa Iria e de outros clubes, numa viagem que – as estradas não eram como são
hoje - levava várias horas a fazer-se. Desta forma, o convívio e a amizade
ganhavam pontos.
A
organização do evento disponibilizava gratuitamente as residências temporárias
do pessoal da empresa. Durante longo tempo, mesmo passados anos após a cessação
da atividade, o Grande Prémio da Urgeiriça figurou na lista das provas de
marcha mais participadas de sempre, incluindo a posição cimeira. Ocupando toda
a manhã de um domingo primaveril era, quase sempre, ao som de música alta dos
Gipsy Kings, que os atletas de todos os escalões etários percorriam as artérias
da simpática vila mineira.
Nas
primeiras edições, a prova mais longa do programa ligou Urgeiriça a Canas de
Senhorim. Em 1979, deu-se a estreia dos 20 km para seniores masculinos,
distância que raramente era incluída no programa atlético nacional de então. O
próprio Carlos Albano chegou a tomar parte na prova bem como o atual presidente
da junta de freguesia de Canas de Senhorim, Luís Pinheiro. Foram aí
estabelecidos os dois primeiros recordes nacionais, curiosamente, por Luís
Dias, ex-treinador nacional de marcha, e por Paulo Alves que, mais tarde, viria
a ser o diretor-técnico nacional da Federação Portuguesa de Triatlo.
Eram
também sempre aguardados os momentos finais de entrega dos (muitos) prémios aos
participantes mais bem classificados, antecedidos de um almoço que a
organização oferecia gentilmente às delegações onde primava a gastronomia
beirã.
Nesse
tempo havia em disputa um enorme e belíssimo troféu destinado ao clube que
vencesse a competição três vezes seguidas ou cinco alternadas, considerando o
somatório de pontos alcançados pelos dez melhores atletas no conjunto de todos
os escalões etários.
“Sentíamos grande prazer quando um clube de
fora da região levava o ambicionado troféu, mais ao alcance de delegações com
grande número de atletas, já que seria certamente um estímulo para que
voltassem em próximas edições”, refere Carlos Albano, um dos grandes obreiros
da iniciativa, acrescentando que foi sempre muito trabalhoso colocar-se de pé
tal empreendimento.
“Os patrocínios oficiais eram muito escassos.
O INATEL, a que o grupo desportivo da empresa estava filiado, contribuía com alguma
coisa. No entanto, os prémios eram muito interessantes. Havia ofertas de várias
taças e troféus por parte de empresas e de entidades bancárias, destas até
coleções de moedas recebíamos. Vários patrocinadores faziam questão de
comparecer à cerimónia de premiação”.
“Nessa ocasião a Casa do Pessoal
disponibilizava um veículo para transporte dos atletas seus trabalhadores, a
provas realizadas em Lisboa e Vila Franca de Xira. Recordo-me que numa das
edições da Urgeiriça existia uma prova de 5 km de iniciação, na qual um jovem –
Carlos Tenreiro - filho de um trabalhador da empresa, se destacou e,
inclusivamente, ficou muito bem classificado nuns nacionais de juniores. Não
fossem as dificuldades de transporte que o impediram de ir a provas fora da
região e teria sido um marchador de grande categoria”
Carlos
Albano realça ainda, e de forma elogiosa, o grande trabalho na organização do
evento do seu colega de então, João Marques, um grande entusiasta da marcha
atlética, pessoa muito metódica, e do apoio dado, na medida das possibilidades,
da direção da Casa do Pessoal, que em determinadas edições conseguiu que o
Hotel das Felgueiras disponibilizasse, a preços muito razoáveis, a estadia de
muitos atletas.