domingo, 2 de setembro de 2012

URGEIRIÇA fez história na marcha (1976 – 1991)

João Marques e Carlos Albano, os dinamizadores.
Foto: Carlos Gomes.
A Casa do Pessoal da Empresa Nacional de Urânio (Minas da Urgeiriça), muito por ação de um atleta, Carlos Albano Eduardo, então funcionário administrativo da empresa, considerado o primeiro especialista nacional de marcha atlética, tomou em mãos, por vários anos, a realização de um Grande Prémio.
 
A competição, além de ter sido pioneira enquanto certame exclusivo de marcha atlética, foi um estímulo para o aparecimento de organizações semelhantes em diferentes regiões de Portugal.
 
Naqueles tempos, e principalmente nas primeiras edições da prova, era em clima de autêntica romaria e festa que se rumava para aquelas bandas. Um autocarro, por vezes dois, punha-se à estrada, invariavelmente a um sábado, com partidas de Lisboa, transportando atletas, na sua maioria do Centro de Cultura e Desporto de Olivais Sul e da Associação Desportiva de Oeiras, assim como do Benfica, do Santa Iria e de outros clubes, numa viagem que – as estradas não eram como são hoje - levava várias horas a fazer-se. Desta forma, o convívio e a amizade ganhavam pontos.
 
A organização do evento disponibilizava gratuitamente as residências temporárias do pessoal da empresa. Durante longo tempo, mesmo passados anos após a cessação da atividade, o Grande Prémio da Urgeiriça figurou na lista das provas de marcha mais participadas de sempre, incluindo a posição cimeira. Ocupando toda a manhã de um domingo primaveril era, quase sempre, ao som de música alta dos Gipsy Kings, que os atletas de todos os escalões etários percorriam as artérias da simpática vila mineira.
 
Nas primeiras edições, a prova mais longa do programa ligou Urgeiriça a Canas de Senhorim. Em 1979, deu-se a estreia dos 20 km para seniores masculinos, distância que raramente era incluída no programa atlético nacional de então. O próprio Carlos Albano chegou a tomar parte na prova bem como o atual presidente da junta de freguesia de Canas de Senhorim, Luís Pinheiro. Foram aí estabelecidos os dois primeiros recordes nacionais, curiosamente, por Luís Dias, ex-treinador nacional de marcha, e por Paulo Alves que, mais tarde, viria a ser o diretor-técnico nacional da Federação Portuguesa de Triatlo.
 
Eram também sempre aguardados os momentos finais de entrega dos (muitos) prémios aos participantes mais bem classificados, antecedidos de um almoço que a organização oferecia gentilmente às delegações onde primava a gastronomia beirã.
 
Nesse tempo havia em disputa um enorme e belíssimo troféu destinado ao clube que vencesse a competição três vezes seguidas ou cinco alternadas, considerando o somatório de pontos alcançados pelos dez melhores atletas no conjunto de todos os escalões etários.
 
“Sentíamos grande prazer quando um clube de fora da região levava o ambicionado troféu, mais ao alcance de delegações com grande número de atletas, já que seria certamente um estímulo para que voltassem em próximas edições”, refere Carlos Albano, um dos grandes obreiros da iniciativa, acrescentando que foi sempre muito trabalhoso colocar-se de pé tal empreendimento.
 
“Os patrocínios oficiais eram muito escassos. O INATEL, a que o grupo desportivo da empresa estava filiado, contribuía com alguma coisa. No entanto, os prémios eram muito interessantes. Havia ofertas de várias taças e troféus por parte de empresas e de entidades bancárias, destas até coleções de moedas recebíamos. Vários patrocinadores faziam questão de comparecer à cerimónia de premiação”.
 
“Nessa ocasião a Casa do Pessoal disponibilizava um veículo para transporte dos atletas seus trabalhadores, a provas realizadas em Lisboa e Vila Franca de Xira. Recordo-me que numa das edições da Urgeiriça existia uma prova de 5 km de iniciação, na qual um jovem – Carlos Tenreiro - filho de um trabalhador da empresa, se destacou e, inclusivamente, ficou muito bem classificado nuns nacionais de juniores. Não fossem as dificuldades de transporte que o impediram de ir a provas fora da região e teria sido um marchador de grande categoria”
 
Carlos Albano realça ainda, e de forma elogiosa, o grande trabalho na organização do evento do seu colega de então, João Marques, um grande entusiasta da marcha atlética, pessoa muito metódica, e do apoio dado, na medida das possibilidades, da direção da Casa do Pessoal, que em determinadas edições conseguiu que o Hotel das Felgueiras disponibilizasse, a preços muito razoáveis, a estadia de muitos atletas.